sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Uma boa campanha

Para fazer uma boa análise da campanha eleitoral, em minha opinião, é preciso algum autismo. Tentar não ouvir, por momentos, os comentários que, abundantemente, por aí se vão produzindo. E, sozinhos com a nossa consciência, olhar os factos, as evidências, as nossas percepções para, no fim, tentar chegar a uma conclusão. Algo difícil.

A campanha que hoje termina começou muito bem – refiro-me, mais especificamente, ao período denominado de pré-campanha. Houve debate, discussão de ideias, projectos diferentes e visões díspares sobre o País. E os portugueses ouviram. Os debates entre os principais candidatos, com os eventuais defeitos que possam ter, foram esclarecedores e obrigaram os candidatos a discutir as suas ideias e projectos – ainda que com algumas inverdades pelo meio ou demagogias. Colocaram frente a frente pontos de vista diversos, ou então o contrário, mostraram algumas ideias coincidentes.

Os portugueses, penso, ficaram a saber, em traços gerais, quais são as grandes ideias dos cinco principais partidos para o País. E os debates e a pré-campanha foram essenciais para esse esclarecimento. Hoje, todos nós, por mais alheados que andemos da vida política, conseguimos identificar no mínimo 4 ou 5 bandeiras de cada força política.

Depois começou a campanha: as tais duas semanas a percorrer as ruas e avenidas deste País. Houve menos espaço para a discussão de ideias, chegaram os casos e esfumou-se o conteúdo programático. Algo inevitável… Mas é interessante ver o País a respirar política.

Quem fez melhor campanha?

Montar uma campanha eleitoral, imagino, deve ser uma tarefa titânica. Quem é que o fez melhor? Sem dúvida, o PS. Porque uma campanha, para além de produzir momentos televisivos de boa emoção, deve transparecer uma mensagem. E o Partido Socialista conseguiu isso, em grande parte devido ao jeito (mérito, força, determinação) de José Sócrates para estas coisas.
O eleitorado – essa espécie tão evocada e de tão pouca percepção – ficou com algumas certezas face ao Partido Socialista. Em primeiro, que se propõe fazer coisas, isto é, ter uma postura activa na próxima legislatura. Construir auto-estradas, o TGV, o novo aeroporto, apostar nas energias renováveis, na qualificação, ter políticas de apoio social… Qualquer português identifica estas medidas e liga-as ao programa do PS.

Depois, viu um PS unido e sem problemas internos. Mesmo aqueles que nos últimos quatro anos e meio andaram longe do rumo traçado pela direcção nacional do partido fizeram questão de aparecer ao lado de José Sócrates. Em terceiro, um partido grande, que faz comícios, enche salas, tem banhos de multidão nas ruas. E, por fim, José Sócrates. Esta campanha – e todos os partidos contribuíram para isso – foi muito fulanizada. De longe, as figuras principais da campanha foram os líderes. Paulo Portas até chegou a dizer “não liguem ao CDS votem em mim”. E no combate da popularidade dos líderes José Sócrates foi o melhor, desde os debates entre os candidatos à energia durante a campanha. O que ao fim de quatro anos e meio de governação, depois de tantas manifestações e duros ataques pessoais, é algo notável.

Ao analisarmos a campanha do PSD somos obrigados a concluir que os seus resultados foram absolutamente contrários aos do PS. Desde a mensagem para os próximos quatro anos, que é de parar, de inacção – e, atenção, sei que estou a ser injusto mas esta é a mensagem que o “bom pai de família” recebe –, de um desvio neoliberal que vai privatizar as funções que ainda restam ao Estado, até ao facto de o partido não se ter unido em torno da líder. A campanha do PSD foi má. E não falo só da ausência de momentos de campanha ou de comícios. Com o desemprego tão elevado por que razão escolheu o principal partido da oposição a asfixia democrática como bandeira de campanha, ainda por cima assente em pressupostos falsos, como se veio a comprovar? Não faz sentido.

Três breves frases em relação aos partidos mais pequenos. José Sócrates desferiu um duro ataque em Francisco Louçã quando o acusou de querer acabar com alguns benefícios fiscais da classe média; Paulo Portas surpreendeu pela positiva; e Jerónimo, não tendo muito jeito para a televisão, mostrou que era um homem sério – para além de um condutor respeitável que não passa por cima dos peões.

Fazer uma boa campanha não basta para se ganhar eleições. O Partido Socialista tem o desgaste de quatro anos e meio de governação, volto a repetir, com uma forte contestação na rua e muitos ataques ao primeiro-ministro. As sondagens, hoje, não dão confiança alguma e ganhar optimismo com sondagens não é um caminho correcto. Por isso as incertezas ainda são muitas e os resultados imprevisíveis.

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