quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PSD e Salazar

Obviamente que Manuela Ferreira Leite está longe de ser como Salazar. Apesar da sua famosa gaffe sobre a democracia suspensa, a verdade é que ela é líder de um dos partidos históricos da democracia portuguesa, e submete-se à livre avaliação, nas eleições, de todos os portugueses. Não é o cariz democrático do PSD que está em causa.

O que está em causa é a forma como o PSD fez a sua campanha, e é isso que a comparação com Salazar - algo exagerada, mas eficaz no sentido transmitido - quer transmitir.

Em democracia, como bem nos explicam Habermas ou Richard Rorty, não há verdades absolutas, em termos da orientação político-normativa. Isto é, há verdades empíricas - estatísticas, factos comprovados - mas nunca há uma verdade, indiscutível, acerca de que valores uma governação deve prosseguir. Essa admissão da pluralidade de visões é um pilar incontornável da democracia. Por isso, todos nós podemos e devemos criticar as ideias dos nossos adversários caso não concordemos com elas. Mas o que não podemos fazer é afirmar que o partido a que pertencemos é dono exclusivo da verdade, e que todos os outros não só estão errados, como são mentirosos. Isto é, em termos de valores e orientações éticas, não há ideias verdadeiras e ideias mentirosas, porque nenhuma ideia política é comprovavél como se de uma fórmula química se tratasse. Há ideias certas e ideias erradas, e esse conceito - do certo e do errado - é, inevitavelmente, subjectivo.

É neste âmbito que surge a comparação com Salazar. Porque, sem duvidar de que o PSD é um partido que acredita na democracia, cometeu o erro de auto-proclamar-se dono da verdade. E isso é próprio de uma mentalidade autocrática, autoritária. O que um democrata deve fazer é acreditar profundamente na verdade daquilo que transmite, mas sabendo sempre que os outros, que dele discordam, têm igual legitimidade para acreditar na sua própria, e diferente, verdade. Essa atitude faltou ao PSD, tal como faltou a Salazar, tal como falta a todos os espíritos autoritários e anti-democráticos. O PSD é um partido anti-democrático e Salazarista? Não. Mas uma das suas principais ideias de campanha cometeu o erro de aparentar ser.

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