terça-feira, 22 de setembro de 2009

Justiça Poética ou Divina

Estamos a entrar na recta final da campanha para as eleições legislativas de domingo. Acredito que hoje as pessoas que ainda se afirmam indecisas, certamente, irão engrossar a abstenção em vez de ir votar – apesar de ter a confiança numa abstenção reduzida. É isso que indicam as regras: na última semana, quem ainda não se decidiu, normalmente, opta por não votar.
Mas os partidos políticos continuam, e em grande força, a sua missão: passar a mensagem, levar o seu programa político à população e, desse modo, conquistar votos. Pena que nem todos os partidos assumam esta postura.

Ainda ontem à noite ouvi um dirigente nacional do PSD, Morais Sarmento, voltar a falar na famigerada “claustrofobia democrática” e tecer críticas ao Governo nesta matéria. Como é que é possível ter tanto descaramento? Vamos as factos.

Uma fonte anónima de Belém – que toda a gente sabia perfeitamente quem era –, durante o mês de Agosto, desabafou ao jornal Público que o Presidente da República tinha a sensação de ser alvo de escutas por parte do Gabinete do Primeiro-ministro, dando até um exemplo, totalmente surreal, acerca do comportamento “suspeito” de um assessor de José Sócrates a quando de uma visita de Cavaco à Madeira.

Este acontecimento marcou a chamada silly season e foi aproveitado pelo PSD, e pela restante oposição, para cavalgar a onda da “claustrofobia democrática”. “Vejam só, até o próprio Chefe de Estado é espiado!”, diziam eles. Perante isto, Cavaco Silva nunca se pronunciou, permitindo que se fosse instalando a convicção de tais acusações serem verdade: em política, o que não é desmentido toma-se por verdadeiro.

E existiram críticas e mais críticas. Espaços noticiosos e de debate que deveriam ter servido para falar sobre o País e as propostas de futuro tiveram como ocupação discutir a “claustrofobia democrática”. Com um silêncio incompreensível de quem tinha a obrigação de falar e esclarecer a situação: Cavaco Silva.

Na última sexta-feira, o DN publica em manchete o conteúdo de um e-mail interno do Público, que desmascara Fernando Lima (assessor de imprensa de Belém e pessoa muito próxima de Cavaco Silva desde 1985) e refere as reais intenções de toda esta situação: fabricar, a partir da Presidência da República, um caso político que afectasse o Governo do Partido Socialista nas vésperas das eleições. E tudo com a conivência de um jornal: o Público.

Até vimos o director do Publico, o José Manuel Fernandes, vir, de manhã, dizer que o Governo – mais uma vez o Governo – tinha ordenado às secretas para vasculharem o e-mail do Jornal e passar a informação para o Diário de Notícias poder publicá-la. Para, à noite, vir rectificar o seu discurso e assegurar que não tinha existido nenhuma intervenção das secretas e que tudo não passava de uma fuga de informação interna.

Quais as conclusões disto tudo? Em primeiro, que a oposição – e aí incluo Belém (o que não significa necessariamente Cavaco Silva mas os seus assessore) manipulam melhor a comunicação social do que o Governo. Que há jornais que têm como caderno de encargos claro atacar o PS e o Governo. E que há partidos que, não tendo um líder nem um programa, se vêem na necessidade de produzir casos laterais para distrair os portugueses.

Ao fim ao cabo, num rasgo de justiça poética ou divina, quem vai ficar mais prejudicado com isto tudo ainda será o PSD de Manuela Ferreira Leite, que está umbilicalmente ligado à Presidência da República. Aliás, rectifico, quem verdadeiramente sai mais prejudicado é a democracia portuguesa que, em vésperas de eleições, não merecia mais este ataque, ainda por cima vindo de um órgão de soberania.

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